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 Para os nossos leitores que não estão familiarizados com o sistema da Shindo Yoshin-ryu, poderia falar um pouco sobre as suas características e origem?

Sensei, quando começou o seu treino em Artes Marciais?


 

Foi ensinado pelo seu Pai e Avô?

 
Pode falar-nos mais sobre Namishiro Sensei?

 
E o seu avô não tinha receio que Namishiro Sensei pudesse também morrer na guerra?

 

À pouco discutiu as origens da escola Takamura. Parece existir também uma influência de Shinkage-ryu kenjutsu.

 
Ambos, o seu pai e o seu avô, morreram durante a Guerra?
Sim. O meu pai, Hideyoshi Ohbata, era um oficial de alta patente do exército e foi dado como morto em Saipan no período final da guerra. My grandfather vanished in one of the firestorms that raged in Tokyo during the American bombing campaigns. We believe he was in the Asakusa area staying with a friend when he was killed. This area of Tokyo was completely destroyed by the bombing. One morning he was supposed to attend a meeting including the press and local politicians. He did not show up which was very unusual. The call immediately went out and many of his friends including his students started searching for him. Many of his friends had connections with the police and the search for him was intensified but he was never found. It was a great loss.
 

Mencionou que o Dojo do seu Avô era em Asakusa...

Sim, Asakusa é na parte norte de Tokyo. Penso que o Dojo localizava-se entre Sensoji e o Santuário Otori. Um homem abastado chamado Hasegawa ajudou o meu avô a construi-lo. Ele estava envolvido no sector da construção e era também um aluno. Na altura em que eu estava a treinar ela já não aparecia, mas o meu avô mencionava-o muitas vezes. O Dojo foi destruído durante os raids de bombardeamento. Nunca o voltei a ver depois disso, mas Namishiro Sensei viu. Lágrimas corriam pelas suas faces quando ele voltou. Ele disse que nada pode ser salvo, nem mesmo as espadas do meu avô.
 
O Dojo alguma vez foi reconstruido?

Não. Alguns anos atrás tentamos encontrar o local do Dojo original, mas tudo é muito diferente agora. Foi impossível dizer onde a localização exacta era. Mesmo as ruas são agora diferentes. Alguns pontos de referência diziam-me que deveria estar muito próximo, mas novamente sublinho que está tudo muito diferente. A última vez que vi o Dojo do meu avô tinha apenas 15 ou 16 anos. Sabe, saímos do Japão pouco depois de o Dojo ter sido destruído e acabamos por nos estabelecer na Suécia. Voltei muitas vezes ao Japão ao longo dos anos mas nunca tentei encontrar a localização exacta até recentemente. A minha mãe tinha regressado à sua casa de família em Otsu por isso tive poucas oportunidades de o procurar.
 
Indicou que o seu avô treinou directamente com Kenkichi Sakakibara, um dos mais proeminentes artistas marciais do final do Sec. XIX. Pode dizer-nos o que se lembra ouvir sobre a experiencia do seu avô no treino de Jikishinkage-ryu e o que por acaso também saiba sobre este famoso professor? Takeda Sokaku supostamente tambem treinou com Sakakibara Sensei. Pergunto-me se esta é a ligação entre o seu avô e Sokaku.
Infelizmente, sei muito pouco sobre Sakakibara Sensei excepto que o meu avô o conheceu durante uma demonstração e tinha por ele, uma quase divina reverencia. Uma coisa que me lembro, que me foi contada por Namishiro Sensei foi sobre a força do meu avô sobre o "heiho positivo do ippatsu" (vitória instantânea com uma técnica). Ele atribuía esta táctica a Sakakibara Sensei e dizia que isso tinha influenciado a sua decisão de sair da Yoshin-ryu e continuar o seu treino na Shindo Yoshin-ryu.
Consultando as minhas notas, descobri que Sakakibara, de acordo com Namishiro Sensei, era bastante agressivo no seu kenjutsu. Isto influenciou Namishiro Sensei na sua aplicação da Tecnica e na forma como me instruiu. Ele falava especificamente sobre como Shigeta admirava a estratégia de empregar esgrima e contratiming seguido de um ponderoso ataque utilizada por Sakakibara. O uso de movimentos das ancas é extremamente importante para esgrimir de forma bem sucedida pois, sem isso, a finta falhará quando nos confrontarmos com um oponente experiente. Nas minhas notas encontrei também referencias ao conceito heiho totsuzen-totsuken. Isto refere-se ao atingir o oponente do subconsciente, tão rápido que tu próprio não tens noção de que o fizeste. Ele existe apenas nos mais eximios e perigosos espadachins. É uma Tecnica de verdadeiros mestres.
É interessante, à vinte anos atrás ninguém nunca tinha ouvido falar de Sokaku Takeda. Agora perguntam-me sobre ele constantemente. A vossa revista já fez alguns artigos muito bons sobre ele. Muitas pessoas tentam diminuir a percepção da influência de Takeda Sensei no Aikido. Isso é uma pena pois é muito desrespeitoso tanto para Ueshiba como para Takeda. Não seria também desrespeitoso os meus alunos minimizarem a influência do meu avô no que eu ensino hoje? O que eu ensino e a forma como ensino são bastante diferentes do que ele me ensinou, mas a sua influência será sempre presente e merece o devido reconhecimento.
Muitas pessoas também tentam fazer de Ueshiba Sensei um deus. Que tolice! Ueshiba Sensei era apenas um homem. Talvez toda esta conversa em volta de Takeda Sensei traga o mundo do Aikido de volta para a terra. Contudo, muitos iram resistir a isso porque é sempre mais fácil convencer alguém a seguir um deus.
 

Entendi que o seu avô também conheceu Kotaro Yoshida. Ele foi um dos alunos mais proeminentes de Sokaku e recebeu um kyoju dairi ou Certificação de instrutor. De que maneira estavam relacionados?

O meu avô trabalhava para um jornal de Tokyo como repórter e viajava com frequência. Tinha muitos amigos no governo e na política. Conheceu Kotaro Yoshida enquanto viajava. Meu avô e Yoshida Sensei descobriram que tinham muito em comum e por isso apresentou-o a Takeda Sensei. Sei que o meu avô encontrou-se com Takeda Sensei várias vezes mas não tenho a certeza quando nem onde. É possível que tivesse sido em Hokkaido porque o meu avô Shigeta viajava com frequência. Tinha a impressão que o meu avô estava mais impressionado com Yoshida Sensei do que com Takeda Sensei. Não sei porque tenho essa impressão. Pode ser simplesmente que ele falava mais sobre Yoshida Sensei. Sei que o meu avô estava muito impressionado com as técnicas de Yoshida Sensei e considerava-o um artista marcial com uma habilidade fenomenal. Yoshida Sensei foi instrumental para Morihei Ueshiba ser apresentado a Sokaku Takeda. Também é bastante conhecido por ter ensinado Oyama, o fundador da Kyokushinkai karate, e Richard Kim. O meu avô adoptou vários conceitos e técnicas de Yoshida Sensei e ensinava-os no Dojo. Ainda fazemos algumas destas formas como parte da escola Takamura.
Sei que Yoshida Sensei e o meu avô ainda viajaram juntos algumas vezes depois de 1930. Yoshida Sensei visitou a casa do meu pai com o meu avô em várias ocasiões quando eu era criança. Lembro-me de ter medo de Yoshida Sensei. Ele vestia de uma forma estranha e de quando em vez pregava-me partidas maldosas. Uma vez até me escondi debaixo do chão quando soube que Yoshida Sensei ia aparecer! Tem a sua graça agora que olho para trás.

Descobri mais tarde que Yoshida Sensei tinha um filho chamado Kenji. Esta foi uma notícia interessante pois o meu avô nunca mencionou que ele tivesse qualquer família ou filhos. O filho evidentemente viajou para a América e eventualmente passou a arte da família a um estudante nos E.U.A. O seu nome é Don Angier e eu vi várias das suas demonstrações em Los Angeles muitos anos atrás. Se me lembro correctamente ele era um agente policial nessa altura. Ele é um excelente técnico.
Tenho uma foto do meu avô com Yoshida Sensei, Takeda Sensei, Hiratsuka Sensei e Inazu Sensei. Não tenho certeza quando ou onde foi tirada. Uma coisa interessante é que Don Angier Sensei enviou-me uma foto de Kotaro Yoshida Sensei por um aluno comum, Toby Threadgill. No grupo com Yoshida Sensei está o meu avô! Foi uma grande surpresa de receber uma foto do meu avô pelo Angier Sensei. Deve datar de 1935 ou mais tarde pois o meu avô parece igual ao que me recordava dele.
 

Yoshida Sensei é suposto ter sido membro da chamada “ Sociedade Dragão Negro “.

Acredito que Yoshida Sensei era um membro da Kokuryukai e da Genyosha como acredito que o meu avô Shigeta também era. Tenho muito pouca informação especifica sobre estes grupos. Sei que eles propositadamente abordaram muitos que abraçaram o bushido para aumentarem os seus números e influência. A versão militar do bushido era vista como uma distorção à ética samurai por alguns de classes mais elevadas que guardavam ressentimento pelos militares comuns. Verdadeiros samurais não eram plebeus como tal um exército de plebeus estava destinado ao fracasso. Esta táctica era usada efectivamente para encorajar pessoas de descendência samurai a juntarem-se a estes grupos e aos militares. Foi um grande erro de avaliação e o papel que estes grupos tiveram na destruição do Japão não deve ser subestimado. Mas acredito que muitos que eram membros destas organizações eram simplesmente patriotas e não tinham consciência das verdadeiras intenções do Japão imperial. Algumas famílias estão ainda injustamente envergonhadas pela participação dos seus antepassados nestas organizações.
 
Por favor descreva o estado presente da escola Shindo Yoshin-ryu no Japão.
Já passou muito tempo desde o meu último contacto com a linha principal da Shindo Yoshin-ryu no Japão. Vi o líder Tatsuo Matsuoka a última vez por volta de 1970, creio, quando estabeleci contacto através de Taro Kozumi, um aluno de Hidenori Ohtsuka e Kinosuke Abe. Acho que Matsuoka Sensei morreu a cerca de dez anos. Isto deixou o futuro da linha principal da escola incerta. Também ouvi que o Dojo sede foi vítima de fogo e não sei se foi reconstruído. Penso que Fujiwara Sensei está a frente do futuro da linha principal da escola, mas não tenho ideia das suas intenções. Nem tão pouco tenho a certeza de quantos Dojo da linha principal existem no Japão. Da última vez que ouvi sobre isso, creio que eram quatro ou cinco. Takagi Iso, até à sua recente reforma, mantinha um Dojo da escola Takamura em Osaka. O aluno mais antigo Hashimoto Sensei está a pensar ensinar num novo Dojo, mas a situação lá não está definida.
O Dojo sede da Wado-ryu jujutsu Kenpo ainda ensina Shindo Yoshin-ryu em Tokyo. Pelo que entendo a Shindo Yoshin-ryu não desperta muito interesse na Wado-ryu de hoje. Isto é uma pena pois o fundador da Wado-ryu, Hidenori Otsuka, tinha um menkyo kaiden em Shindo Yoshin-ryu. Ele recebeu esta licença de Tatsusaburo Nakayama Sensei por volta de 1921. O meu avô conhecia Otsuka vagamente mas pensava muito bem dele. Era um homem de reputação excepcional. Espero que a Wado-ryu não perca as suas raízes de jujutsu que a fazem um dos muito poucos estilos de karate a ter uma herança de bujutsu. Sei que alguns Dojo de Wado-ryu ainda têm uma influência de jujutsu como nos primeiros tempos. Kozumi Sensei veio ter comigo em1968 da Wado-ryu com excelente habilidade em jujutsu. Muitos anos mais tarde, um dos nossos instrutores seniores, Toby Threadgill Sensei, veio ter comigo de um instrutor de Wado-ryu chamado Gerry Chau igualmente com conhecimento impressionante em Shindo Yoshin-ryu. É uma pena que agora se tenha tornado uma excepção. O karate desportivo parece mover o futuro da Wado-ryu para longe as suas raízes de jujutsu. Seria uma boa notícia ouvir que esta impressão está incorrecta.

 
Mencionou anteriormente algo que penso ser muito importante quando disse que a escola Shindo Yoshin-ryu original é mais correctamente chamada como um sogo bujutsu (Sistema marcial integrado) do que um jujutsu porque inclui treino com armas no seu curriculum. Pode falar mais sobre as razões históricas para a eliminação de uma grande parte deste antigo sistema marcial e sobre os prós e contras de praticar uma arte marcial moderna especializada?

A ideia moderna que o jujutsu antigo era uma arte desarmada similar ao Judo não está correcta. A verdade é que existem muitas artes chamadas jujutsu que são fundamentalmente diferentes. O muito antigo Jujutsu usa muitos nomes tais como yawara, kumiuchi, kogosoku, hakuda, e koppo, etc. Maioritariamente estes são verdadeiros koryu (escolas de artes marciais clássicas) e foram concebidas para o campo de batalha e para combate contra soldados em armadura. Muitos destes sistemas não eram muito intrincados poise eram ensinados rapidamente aos ashigaru (soldados a pé) e incluíam armas mais simples. Alguns dos sistemas mais intrincados incluíam técnicas avançadas e armas como o  kusarigama (corrente-e-foice), tanto (faca), e até mesmo kodachi (espada curta). Foram criados para que samurai levemente armados e de armaduras ligeiras pudessem entrar em confronto com oponentes superiormente armadas e mais bem protegidos com sucesso. Jujutsu no período de Edo mudou devido a uma extensa era de paz. Estas artes adaptarem-se para se dirigirem a uma nova realidade de um ambiente sem armadura. Os sistemas antigos mudaram enquanto muitos novos sistemas foram criados. Estas escolas ainda incluem muito treino com armas pois os princípios básicos e técnicas de armas estão no coração do sistema marcial. Certas armas, contudo, começaram a cair em desuso e outras começaram a ser preferidas face a esta nova realidade. O fim do combate com armadura viu um declínio no uso da nagamaki (alabarda de lamina longa), yari (lança) e outras armas. Armas como o jutte (cassetete), tessen (leque de ferro), sode garami (enrolador de mangas), tanto e jo foram mais enfatizadas. Mudanças nas técnicas com armas, que eram o núcleo da arte, também afectaram a aplicação das técnicas desarmadas. Eventualmente, as técnicas desarmadas desenvolveram-se mais ao seu próprio sabor devido à popularidade das competições desarmadas. Isto assinalou o inicio do jujutsu “tipo-Judo” e o fim de muitas verdadeiras tradições clássicas. No virar do século, muitas escolas começaram a ignorar muito do curriculum com armas em favor do combate desarmado. A popularidade do Judo, fundada pelo Professor Jigoro Kano, forçou uma mudança ainda maior em muitas das antigas escolas de jujutsu. Isto é de alguma forma um mistério pois a verdadeira inovação do Judo não era na área Tecnica quanto o era na área de metodologia de ensino. O Judo adoptou uma abordagem mais científica ao ensino e à explicação da Tecnica física. As antigas escolas de jujutsu ainda usavam explicações míticas recorrendo ao ki e outros conceitos do género. Explicações científicas apelavam à maioria do público como mais modernas e superiores em relação ao ultrapassado misticismo marcial. Isto resultou em que o publico abraçasse o Judo em detrimento do jujutsu e outras escolas clássicas Japonesas. Kano também foi bem sucedido em fazer com que o Judo parecesse algo de uma classe mais elevada do que o Jujutsu. Isto foi muito astuto pois é precisamente o contrario. O Judo é uma arte mais popular e o Jujutsu era uma arte dos Samurai.
Portanto, o que é vulgarmente chamado Jujutsu hoje em dia, pelo manos na sua maioria, não é o Jujutsu de antigamente. O que é vulgarmente praticado hoje em dia como Jujutsu são na verdade pequenas partes de sistemas marciais completos chamados de bujutsu ou bugei. Existem muitas razões para aprender apenas uma parte de um sistema marcial. A mais óbvia é simplesmente a verdade de que a realidade e o ambiente circundante foram alterados. Mudanças na tecnologia e nas tácticas militares conduziram inevitavelmente a que as outras armas caíssem em desuso. Onde um sistema com armas sobrevive fá-lo por uma razão diferente do seu valor original. Por esta razão o Iaido é mais popular que o Iaijutsu e o kendo mais popular que o Kenjutsu. Nem as dimensões desportivas nem espirituais da espada existiam quando foi inventado. A espada foi desenvolvida como uma ferramenta de guerra. Os outros aspectos da esgrima surgiram depois. Alguns destes aspectos foram adoptados pela classe guerreira porque os consideraram benéficos, mas estas coisas eram secundárias. O objectivo final para um guerreiro é a aniquilação do inimigo. Isto não deve ser esquecido. Esta verdade é o que faz de uma arte marcial “marcial.”
Por vezes artes marciais antigas ou armas retêm o seu valor por longos períodos de tempo e grandes alterações. O tanto era usado pelos samurai como uma arma alternativa, mas a faca continua a estar no cinto do guerreiro moderno como companheira das armas de fogo actuais. Isto é espantoso quando pensamos nisso! A faca pode muito bem ser uma das maiores armas de todos os tempos devido à sua natureza versátil. A historia parece confirma-lo.
Outra razão para aprender apenas uma parte de um Bujutsu é simplesmente o tempo. Nós já não somos guerreiros 24h por dia. O mundo moderno apenas nos permite um determinado tempo para treinar e como tal treinamos apenas o que é realístico aprender. Para aprender um Bujutsu completamente seria um trabalho a tempo inteiro. Muito poucas pessoas têm tempo ou desejam fazer sacrifícios desta magnitude pelo bujutsu. É melhor aprender um aspecto do Bujutsu bem do que aprender todo de forma deficiente. E também, somos livres para aprender o que é mais apelativo para nós. Alguns aprendem espada, alguns aprendem jujutsu e outros aprendem Naginata. Isto é bom na medida em que permite a futuras gerações liberdade de escolha e oportunidade.
Algumas pessoas pensam que aprendendo apenas jujutsu sem estudar um bujutsu completo não é bom. Olho para isso como a visão de um amador. É melhor aprender alguma coisa bem do que muita coisa superficialmente ou aprender para impressionar outros porque isso é exclusivo ou difícil. Aprender para impressionar outras pessoas e não para nós próprios ou para os professores que vieram antes de nós não é uma motivação correcta. Os melhores artistas marciais são movidos para treinar pelo seu amor às artes, um amor aos seus professores agora e no passado, em vez de si próprios.
Finalmente, existem aqueles de nós que estão comprometidos para e aceitam os sacrifícios de aprender e ensinar um bujutsu completo ou bugei. Não somos melhores que os nossos amigos que escolheram aprender apenas uma parte de um Bujutsu ou que praticam artes marciais modernas. Nós praticamos um sistema complete porque acreditamos e esperamos que existe um bónus que vale o sacrifício. Ele existe. É entender o núcleo técnico e histórico de uma escola de artes marciais. Uma verdadeira tradição marcial é um puzzle coeso. Cada aspecto separado combina-se para fortalecer o todo e complementam-se uns aos outros. O entendimento de que técnicas separadamente não são a arte mas antes um reflexo temporário de um conjunto de conceitos e estratégias marciais mais profundas é libertador. Isto permite-nos abraçar e entender o okuden (segredos da arte). Mestria destes princípios permite a uma escola marcial crescer de geração para geração de aplicações antigas para novas. Através do okuden agarramos o génio intelectual que aparece após anos de treino num verdadeiro bujutsu. É como uma velha assinatura de muitos mestres, cada uma visível sobre a anterior, cada uma parte de um todo maior. Isto é o que faz de um Ryu (escola ou estilo) um Ryu.
Aglomerar vários sistemas juntos que incluem diferentes artes marciais como misturar karate com Aikido quase sempre fica a faltar a assinatura de um génio. Seria melhor manter os sistemas separados porque ao combina-los apagasse a maioria das assinaturas de sabedoria dos professores anteriores. São tradições separadas cujos conceitos e verdades não são verdadeiramente compatíveis. Foram concebidos em ambientes diferentes e por razões diferentes. Deixemo-los ter sucesso no que são em vez de falharem em tentar ser o que nunca foram destinados para serem.


 
Depois da Segunda Guerra Mundial, creio que deixou o Japão e acabou por chegar à Suécia. Pode contar-nos brevemente o que aconteceu?
A minha família tinha um amigo que era um diplomata e em obrigação para com o meu avô Shigeta Ohbata. Este amigo ajudou a mim e a minha mãe a sair do Japão. O meu avô tinha desaparecido na tempestade de fogo em Asakusa mas tinha deixado preparado a nossa saída previamente quando pensou que o Japão seria invadido pelos Americanos e forças aliadas. O meu avô temia especialmente a retaliação Russa devido à anterior vitoria do Japão na Guerra russo-japonesa. Primeiro fomos para a Argentina e depois para a Suecia usando o nome de solteira da minha mãe. Foi assim que chegámos aqui.
 

Como é que a saída do Japão afectou o seu treino de artes marciais?

Não de forma muito séria. Os primeiros dois anos na Suécia foram muito difíceis. Felizmente, Matsuhiro Namishiro Sensei veio para a Suécia cerca de dois anos depois de nós lá chegarmos. Ele tinha feito um juramento solene ao meu avô prometendo completar o meu treino. Veio para junto de nós e depressa retomamos o meu treino. Isto durou até cerca de 1958. Ele decidiu voltar para o Japão durante uma das nossas muitas visitas a casa. Nessa altura disse-me que o meu treino estava completo e que precisava começar a ensinar. Acho que ele gostava muito da Suécia ou teria voltado mais cedo. Quando a minha mãe decidiu voltar ao Japão em 1949, pensei que ele me iria encorajar para regressar com ela. Em vez disso ele encorajou-me a ficar na Suécia. Fiquei muito surpreendido. Mais tarde ele explicou-me que eu precisava aprender a sobreviver sozinho for a do Japão. Anos mais tarde, acabei por me mudar para a América.
 
O que o levou a mudar para América?
Numa viagem de negócios, por volta de 1958 visitei São Francisco e conheci a minha futura esposa Mishiko. Ela convenceu-me que o tempo na Califórnia era muito mais agradável do que na Suécia. Eu concordei, e pedi-a em Casamento!
 

Pode dizer-nos um pouco sobre a sua carreira de ensino nos Estados Unidos?

Eu comecei a ensinar publicamente em San Jose, Califórnia em 1966, penso eu. Nessa altura o Karate era muito popular e o Judo também era muito difundido devido à sua inclusão nos Jogos Olímpicos. Chamava ao que ensinava "Ohbata-ryu judo-jujutsu." As classes eram muito pequenas durante muito tempo e compostas maioritariamente por Judokas e lutadores universitários. Com o tempo, Taro Kozumi Sensei tornou-se meu assistente. Ele era estudante de Wado-Ryu Jujutsu kempo Hidenori Ohtsuka como mencionei anteriormente. Embora muito brusco nos seus métodos de ensino, era muito respeitado pelos alunos. Ele trouxe muitos alunos de karate. Por volta de 1968, decidi adaptar o curriculum para o dirigir para o dirigir a aplicações mais realistas de defesa pessoal. Este processo levou cinco anos de trabalho árduo mas deu os seus frutos. Em 1972, decidi mudar oficialmente o nome da arte para "Takamura-ha Shindo Yoshin-ryu." Mudamos o kanji shin em "Shindo" do que significa “sagrado” para o que significa “novo”. Isto foi feito para reconhecer as alterações feitas ao curriculum tradicional que adoptamos durante este período.
 
Como é que reorganizou o curriculum tradicional de Shindo Yoshin-ryu?
Essa é uma questão muito complexa. Deixe ver se o consigo explicar claramente. Qualquer arte marcial é na verdade um conjunto de ideias e conceitos. As técnicas físicas são importantes mas não são os elementos que definem o estilo. Eu ouvi algumas pessoas dizerem que isto não é verdade, que são técnicas secretas. E então! Aposto que outro estilo tem técnicas que são similares às suas “técnicas secretas”. Adivinharia que eles tivessem mais algo que é correctamente definido como conceitos secretos. Todas as tradições de jujutsu fazem luxações similares porque as articulações em todos os seres humanos funcionam da mesma forma. Não existem na verdade novas chaves. É a forma como executam as chaves que diferenciam os estilos. Os conceitos usados na aplicação das chaves é que é importante. Estes aspectos é que tornam uma tradição diferente de outra. Eles são normalmente Okuden.
Quando vim para a América descobri que muitas técnicas tradicionais simplesmente não eram aplicáveis face as realidades enfrentado os meus novos alunos. As técnicas de jujutsu na sua forma original não eram destinadas a lidar com estas situações modernas. Quando comecei a ensinar, os alunos começaram a questionar-me como lidaria com um boxeur ou com um karate e por ai fora… No inicio fiquei surpreendido porque não sabia se tinha as respostas. Tinha de examinar isto cuidadosamente. Descobri que as respostas estavam mesmo à minha frente. Estava ocupado e focado nas técnicas de jujutsu quando eram os conceitos de jujutsu que eram a solução. As técnicas não interessavam porque eram guiadas por conceitos. Novas técnicas podiam ser criadas para lidar com novas realidades ao mesmo tempo que simultaneamente abraçavam os conceitos honrados pelo tempo do núcleo da arte. Isto não seria abandonar a arte. Isto permitiria à arte manter a sua efectividade e relevância para uma nova geração e era.
 

O que pensam sobre isto os professores que tem uma abordagem mais clássica das artes marciais? Assumo que tenham uma posição crítica da sua posição.

Eles são livres de terem as suas opiniões. Eu sou livre de ter a minha. Não estou na verdade preocupado com o que os outros professores pensam porque a minha autoridade para ensinar não advêm deles. A minha autoridade para ensinar e para tomar as decisões que tomei veio dos meus professores. Estou mais preocupado com o bem-estar dos meus alunos e em estar à altura das responsabilidades que me foram confiadas. Estou confortável com a realidade que os meus alunos possam eventualmente usar a arte que estão a aprender. O mesmo não pode ser dito sobre os alunos da maioria dos professores que tomam uma abordagem estritamente clássica.
Muitas tradições marciais clássicas no Japão são agora apenas danças bonitas. É muito triste. Eles não adaptaram as suas técnicas para lidar com a realidade moderna. Agarram-se apenas a formas antiquadas e, neste processo, muitas vezes negligenciam os conceitos que formam o núcleo de uma tradição particular. Algumas pessoas querem preservar as artes exactamente como elas eram em tempos mais antigos. Isto é louvável, mas normalmente tolo. Com muito poucas excepções, nenhuma escola clássica existente reflecte nem sequer uma fracção da herança técnica da arte como era praticada em tempos passados. É impossível a um professor transmitir a 100% a tradição de uma arte, ainda assim muitas escolas clássicas acreditam que o aluno deve fazer tudo exactamente como o professor para preservar a arte. Sem a adição da sabedoria própria de um instrutor, experiencia e, acima de tudo, inovação técnica, a arte é apenas uma casca oca do que um dia foi em apenas algumas gerações. Sem a consideração das novas realidades para desafiar a eficácia de uma arte, ela torna-se uma peça de museu que a única relevância moderna é a da curiosidade histórica. Lembre-se que os ryu como existiam na era dos estados em guerra (sengokujidai) estavam constantemente a mudar e a ajustarem-se às novas que enfrentavam no campo de batalha. Só quando este período terminou é que a inovação abrandou. Muitas das escolas clássicas como praticadas actualmente são, na melhor das hipóteses, reflexo da via que a tradição trilhou num pequeno espaço de tempo da sua existência. Elas não são um reflexo preciso da sua existência Tecnica ao longo de toda a sua história.
O risco do pensamento clássico tem muitos exemplos históricos que devem uma pessoa parar para pensar. Katsuyori Takeda (1546-82, filho de Shingen Takeda e daimyo do período Azuchi-Momoyama) agarrou-se tolamente a técnicas ultrapassadas de confronto no campo de batalha mesmo estando consciente que a sua eficácia estava seriamente comprometida. Novas estratégias envolvendo uma devastadora inovação tecnológica, o tanegashima (mosquete), era empregue pelos seus inimigos. Os seus samurai foram cortados em pedaços por repetidas salvas de fogo de mosquete pelos soldados a pé de Nobunaga Oda. Um dos mais impressionantes exércitos na história do Japão foi efectivamente dizimado devido à incapacidade do seu líder de abdicar de uma estratégia que sabia estar comprometida face a uma alteração na realidade. Romanticamente atraído a fazer as coisas como tinham sido feitas com sucesso no passado, ele foi derrotado pela sua forma de pensar clássica. Esta estratégia antiga, e a falha de Takeda em se adaptar face a evidente e esmagadora mudança, custou-lhe tudo.
Eu não permitirei uma falha semelhante em termos técnicos ou de forma de pensar que possa comprometer a potencial segurança dos meus alunos. O meu avô enfatizava frequentemente que o meu jujutsu tinha realmente de funcionar. Que ele tinha de se tornar o meu próprio jujutsu. E que um dia o jujutsu dos meus alunos teria de se tornar deles. Este foi o seu legado a mim e deve ser o meu legado também aos meus alunos tanto quanto a ele.
 
Como achou diferente aprender e ensinar no ocidente comparado com o Japão?
Quando cheguei à América apercebi-me que a mente ocidental não iria ser ensinada da mesma forma que a mente Japonesa. A situação Americana era simplesmente demasiado diferente. Os americanos são por natureza mais sépticos e desconfiados que os japoneses. A liberdade de pensamento ocidental permite a um aluno examinar e questionar coisas de uma forma que seria totalmente inapropriada no Japão. Isto é bom e mau. A parte má é que pode conduzir o aluno a descartar uma Tecnica ou conceito como invalido apenas porque ele ainda não dedicou o tempo e esforço necessário para a aprender correctamente ou embrenhar-se nos seus segredos. Alunos que caiam nesta armadilha nunca dominam o básico. Mais tarde no seu treino descobriram enormes buracos deixados por ignorar lições importantes que o aluno decidiu não perseguir porque não conseguiu ver o valor que tinham. Quando encontro um aluno assim normalmente não o aceito. É demasiado trabalho para desfazer o estrago feito por esta forma de pensar e um Sensei medíocre. A parte boa é que permite um muito maior fluxo de informação entre o aluno e o professor. Também permite um muito maior grau de criatividade do aluno. Alunos com bases sólidas e liberdade de pensamento ultrapassam grandemente o modelo japonês, mais tradicional.
O melhor dos dois mundos na verdade existe conceptualmente no Japão. Chama-se Shu-ha-ri. Literalmente, protegendo a forma, quebrando a forma, distanciando-nos da forma. É um método teórico para transmitir qualquer escola clássica de artes marciais. Na prática, contudo, creio que tem pouco sucesso. A realidade histórica do Japão não encoraja a individualidade. Assim embora uma grande fundação de aprendizagem seja construída, a liberdade criativa para expandir é raramente atingida. Como prova disto basta olhar para o que aconteceu no judo, ou mesmo no sumo. Os estrangeiros mais inovadores têm vindo a dominar o judo. Europeus e coreanos estão a conduzir as inovações técnicas neste desporto de forma impressionante. Estrangeiros estão a fazer o mesmo caminho lentamente no sumo. Por vezes o Shu-ha-ri é correctamente aplicado e tradicionalismo inovador mantém o núcleo da arte e verdades práticas intactas. Tenshin Shoden Katori Shinto-ryu é um dos raros exemplos no mundo das artes marciais clássicas em que o Shu-ha-ri foi na minha opinião bem sucedido.
 

Entendo que é extremamente selectivo sobre quem escolhe para seu aluno. Qual é o critério que utiliza quando selecciona um potencial aluno?

A questão sobre como escolho um alunos é difícil de responder. Muito do meu critério é baseado em instinto ou "kan no me wa tsuyoi." Apenas olho para um aluno, olho nos seus olhos, e vejo o que vejo. Se não sentir e vir o que estou à procura, apenas digo, “não obrigado”. Sou muito sensível ao potencial para aprender de alguém. E também não gosto de desensinar alunos. Prefiro um aluno com experiencia em artes marciais, mas também que tenham uma mente totalmente aberta. Veja, não é tanto que eu seja selectivo, é apenas que tão poucos alunos potenciais têm as qualidades adequadas.
 
Algumas pessoas que observem os seus treinos poderão considera-los invulgarmente duros. Isto é verdade?
Eu não penso que essa seja uma observação precisa. O termo “duro” para mim implica lesões sérias frequentes. Somos mais realistas na forma como abordamos o treino? Devo dizer que sim. Quando praticamos bater, batemos bastante forte. Se falhar a sua defesa ou a técnica será atingido com bastante força. Praticamos ataques pouco ortodoxos e praticamo-los com uma velocidade bastante elevada comparado com a maioria dos Dojos. Temos a intenção de inserir uma quantidade de stress mais realista no nosso treino situacional. O medo de ser atingido golpes duros a alta velocidade cria stress que simula a sentimento de medo sentido numa genuína confrontação. Eliminar este tipo de treino apenas converte a arte numa calistenia. Nada faz para prevenir lesões. O falso sentimento de segurança que existe em muitos dojos na verdade induz uma mente complacente e aumenta lesões. Com uma mente complacente é permitido a um aluno relaxar a sua percepção situacional. Ele baixa a guarda e lesiona-se. Se querem ver muitas lesões, vão a alguns dojos de Aikido. As pessoas lesionam-se frequentemente porque não se sentem ameaçadas naquele ambiente harmonioso. No meu Dojo as técnicas não são harmoniosas, são ameaçadoras.
Alguns professores de Aikido ensinam Aikido como uma arte marcial e outros não. Isto é certo desde que o professor seja honesto com os alunos sobre o objective do seu ensino. Alguns professores afirmam estar a ensinar uma arte marcial quando não estão. Eu creio que isto é um grande erro. Outros professores de Aikido ensinam a arte como uma disciplina puramente espiritual e são honestos com os seus alunos sobre isto. Por mim isto está certo. Aikido como uma busca espiritual é uma coisa honrada e acredito que este era o objective final de Ueshiba Sensei. Mas os aspectos espirituais da arte são mais prováveis de serem aplicados quando é ensinado como uma arte marcial. As artes marciais são uma grande responsabilidade! A habilidade marcial é uma ferramenta que permite à disciplina espiritual florescer e operar magia na alma. O coração e a mente têm de lutar com demónios e ser vitoriosos para encontrar a iluminação. Sem uma luta, O carácter nunca é verdadeiramente posto à prova e nunca amadurece. Por isso é que shugyo (disciplina ascética) é tão importante.
Alguns professores de Aikido falam muito sobre a não-violência, mas não conseguem entender esta verdade. Um pacifista não é verdadeiramente um pacifista se na verdade não consegue fazer uma escolha sobre a violência ou a não-violência. Um verdadeiro pacifista é capaz de matar ou mutilar num piscar de olhos, mas no momento da eminente destruição do inimigo ele escolhe a não-violência. Ele escolhe a paz. Ele tem de ser capaz de fazer a escolha. Ele tem de ter a habilidade genuína de destruir o seu inimigo e então escolher não o fazer. Já ouvi esta desculpa. “Eu prefiro ser um pacifista do que aprender as técnicas logo não preciso aprender o poder da destruição.” Isto a total incompreensão da mente de um verdadeiro guerreiro. Isto é apenas uma racionalização para encobrir o medo de lesões pelo treino difícil. O verdadeiro guerreiro que escolhe ser um pacifista está na disposição de permanecer e morrer pelos seus princípios. As pessoas que afirmam serem pacifistas que racionalizam para evitar o treino duro ou lesões irão fugir em vez de ficar e morrer pelos seus princípios. Eles são apenas cobardes. Apenas um guerreiro que tenha temperado o seu espírito em conflito e que tenha confrontado a si mesmo e os seus maiores medos pode na minha opinião fazer a escolha de ser um verdadeiro pacifista.
Anos atrás vi um instrutor de Aikido chamado Tadashi Abe em França. Ele era um verdadeiro guerreiro em todas as formas. Ele era um grande exemplo de um homem com espírito marcial ardendo na sua barriga enquanto o espírito da harmonia era visível nos seus olhos. Ele era um verdadeiro crédito ao legado técnico e espiritual de Ueshiba Sensei. Ele era 100% Samurai!
 
Acho os seus pensamentos neste assunto fascinantes. Pode expandir este tema um pouco mais?
O termo “arte marcial” é usado muitas vezes sem qualquer ideia do seu significado. “Marcial” significa “Guerra” ou “conflito”. Num Dojo de artes marciais treinamos para o conflito. Sem conflito físico e psicológico não existe “marcial” em arte marcial. Medo, a ser superado, tem de ser confrontado e experimentado. O medo tem de se tornar uma parte da sua experiencia de vida. Entendimento do medo e a reacção apropriada quando confrontado com o medo é o sinal de um artista marcial maduro. Não serão os seus colegas de Dojo e professores as pessoas em deve realmente confiar quando aprende a confrontar os seus medos? Num verdadeiro Dojo, eles são. Lembre-se que a maioria das pessoas que se chamam artistas marciais não são nada desse tipo. A maioria dos dojos também não são dojos de artes marciais. São clubes sociais glorificados prosperando num ambiente de estímulo emocional que é realçado por uma falsa ou limitada percepção do perigo. Quando o verdadeiro perigo se revela num Dojo desses, os participantes correm em busca de abrigo. Num verdadeiro dojo os participantes correm para o conflito.
 

Sensei, quais são os seus pensamentos sobre os conceitos de tori e uke na pratica de artes marciais?

Na Shindo Yoshin-ryu não usamos mito os termos tori e uke, mas os conceitos são os mesmos. Por tori quer dizer a pessoa que executa a técnica e por uke quer dizer a pessoa que recebe a técnica. Estes termos são comuns no budo moderno, mas não tão comuns no bujutsu tradicional. Em artes modernas, o professor normalmente demonstra a Tecnica e o uke é um aluno. Embora por vezes isto também seja feito no bujutsu, é muito frequente ser o contrario. O professor apenas demonstra quando os alunos são iniciantes ou não sabem a técnica. Depois os alunos seniores demonstram no professor. Eventualmente, todos os alunos demonstram no professor. O aluno executa uma Tecnica no professor para permitir ao professor sentir o que não é visível a olho nu. O professor sente um erro antes que ele se torne um hábito. O professor sente o espírito do aluno através da sua Tecnica. A técnica também se torna um olho para o coração do professor que permite ser projectado. Isto é uma demonstração de humildade do coração do professor. Isto é muito importante. Tenha cuidado com professores que nunca permitem ser projectados. Se um professor nunca cai não verdadeiramente um professor, apenas a imitação de um. Os alunos não são apenas corpos para os professores usarem ou se exibirem. Os alunos são a única razão para a existência dos professores. Sem alunos não existe tal coisa como um professor. Infelizmente não vemos mais professores aceitarem ukemi nas artes marciais modernas, especialmente aqueles que professam estar envolvidos no treino espiritual. Frequentemente a conversa do serviço espiritual é uma bonita cobertura para esconder um coração corrupto por baixo. O sinal de verdadeira iluminação não é técnicas elegantes, conversa floreada ou pontificação espiritual, mas é evidente na pureza do olhar do professor e no olhar respeitoso do aluno que olha para o professor. Olhe e verá.  
 

E sobre o sistema sempai (sénior) e kohai (júnior) nas artes marciais?

Estes são outros termos que realmente não usamos em Shindo Yoshin-ryu. São termos mais comuns às artes marciais modernas. Estes conceitos são na verdade mais recentes e usados como uma ferramenta para a aplicação de disciplina dentro de um grupo grande de pessoal militar recrutado. Nos dojos de karate com disciplina tipo-militar, este sistema é frequentemente aplicado severamente ao ponto de crueldade. Até já vi o sistema sempai-kohai aplicado a um nível doentio em alguns dojos de Aikido. No serviço militar, pode ser positivo criar uma cadeia de comando óbvia e assegurar a coesão mental do grupo, mas lembre-se que os samurais não eram um exército recrutado. A dinâmica de grupo de um clã samurai era muito diferente da que existe num exército moderno. O mesmo é válido para um Dojo de bujutsu, não é o exército. Precisamos deste género de sistema no dojo? Não no meu dojo! Não preciso de ladrar “osu” aos meus alunos ou desejar que respondam com gritos de grupo. Isto não é verdadeiramente útil num verdadeiro Dojo de bujutsu. O treino e responsabilidade dos alunos é muito mais personalizado. Existe uma senioridade óbvia num Dojo de bujutsu Takamura-Ha? Sim e não. Não temos níveis e não temos nenhum uniforme específico que demonstre senioridade. Ninguém é solicitado a realizar nenhuma tarefa que eu ou outro professor não façamos nós próprios. Mas alinhamos no Dojo de acordo com experiencia e licenças emitidas. Se assistir a uma aula em um dos nossos dojos irá rapidamente perceber quem é sénior e quem é júnior sem o instrutor ladrar ordens a ninguém ou ver quem limpa o WC. Ladrar ordens a homens recrutados para o serviço militar na tropa pode servir algum propósito positivo, mas eu treino alunos para serem líderes pensantes e não seguidores ardentes.
 

Dê-nos a sua visão do popular sistema Gracie jujutsu, por favor.

Como tudo existem ambos bom e mau. Temos de nos lembrar que o Gracie jujutsu é muito diferente do jujutsu antigo. Embora não tenha nenhum problema com ele ser chamado de jujutsu na verdade é muito mais próximo do judo inicial. Tem sido bastante efectivos, não tem? Embora o sistema pareça mormente uma arte de ringue, admiro a sua efectiva aplicação de estratégias e tácticas de jujutsu. Também admiro a forma honrada como os Gracies se comportam. Gostaria muito de conhecer este Helio Gracie. Ele, como Tadashi Abe tem fogo na barriga mas harmonia nos seus olhos. Ele ensinou os seus filhos a agirem de forma correcta. Quando eles apareceram nestes concursos vestiam um simples gi branco. Eles não andam aos pulos em fantasias espampanantes nem levam para o tapete coisas tolas para gáudio da televisão. Isso é tão absurdo. Concursos marciais são assuntos serios. Os Gracie s comportam-se com honra. Isto eles aprenderam com o seu pai e Sensei. Infelizmente, a impressão que o publico está a ganhar sobre o jujutsu e as artes marciais através destes concursos é na minha opinião um pouco barbara. Muitos dos outros concorrentes nestes concursos não são na verdade artistas marciais. Não tem qualquer conceito de honra u dignidade. Desejava que os gracies tivessem mantido este tipo de concursos mais privados. Ao torna-los públicos atraíram homens de carácter comprometido e duvidoso que glorificam a violência e se comportam como tolos egomaniacos. Este tipo de atmosfera foi um dos elementos que levou Jigaro Kano a fundar o judo. A violência é uma realidade solene a ser confrontada com a máxima seriedade. Apenas carácter forjado sobre as mais duras malhas do shugyo pode sobreviver e ultrapassar a maldade da violência gratuita. A sociedade ocidental está doente disso. Indivíduos que se portam nestes concursos sem qualquer conceito de honra ou dignidade apenas contribuem para essa doença.
 
Entendo que tem uma opinião sobre indivíduos de descendência não Japonesa que adoptam maneirismos quasi-japoneses e os levam a extremos. Estou muito curioso de ouvir a sua resposta a este assunto pois conheci muitos indivíduos deste tipo ao longo dos anos!
Estas pessoas de que fala são indivíduos bizarros. É como se tivessem vergonha de serem o que são. Talvez eles queiram ser japoneses por alguma razão. Ou talvez eles queiram parecer japoneses para serem levados mais seriamente nas artes marciais. Isto talvez funcione com alguns ocidentais mas os japoneses irão sempre olha-los com desconfiança. Qual é o problema de ser Americano, Inglês ou Sueco? Tenho um aluno que é professor que tem um lindíssimo Dojo tradicional e um jardim Japonês. Continua a agir normalmente. Ele é do Texas logo usa botas de Cowboy e jeans, não kimono e geta. Isso pareceria palerma no Texas! Há alguns anos eu e o meu aluno mais antigo, David Maynard, conhecemos um instrutor de kenjutsu americano num festival em San Diego que agia de forma mais japonesa que um japonês. Este instrutor nem sequer tinha treinado extensivamente no Japão. Foi muito divertido para nós, mais ou menos como assistir a uma peça de teatro com ele a representar muito mal. Este indivíduo trouxe os seus próprios pauzinhos para comer durante o festival. Nunca esquecerei a expressão horrorizada dos japoneses que preparavam a comida. Trazer os seus próprios pauzinhos deve ter-lhe parecido muito “Japonês”, mas para os Japoneses pareceu que ele pensava que os pauzinhos que lhe estavam a oferecer estavam sujos. Isto deixou uma má impressão em muitas pessoas. Foi bastante embaraçoso, especialmente para o Dave porque ele era um americano a fazer também uma demonstração de kenjutsu para uma maioria de assistência japonesa. Acho que o ponto é que devemos ser apenas nós próprios. As artes marciais já são bastante difíceis de aprender sem tentar ser algo ou alguém que não se é.
Outro mal entendido comum é que temos de ir ao Japão para treinar uma “verdadeira” arte marcial japonesa! Acho esta uma ideia bastante estranha. O que tem a haver a terra debaixo do chão com a qualidade do treino num Dojo de artes marciais hoje em dia? Alguns indivíduos que passam tempo a treinar no Japão reforçam esta ideia com artigos em revistas e livros de historias sobre segredos misteriosos que lá se encontram. Outros fazem a afirmação interessante que apenas imergindo-nos na cultura originaria da arte poderemos verdadeiramente entender a sua essência e espírito. Estes indivíduos são bem-vindos a terem as suas opiniões, mas lamento ter de discordar com eles. Eu nasci no Japão, criado na cultura pré segunda Guerra mundial do Japão, numa família ligada durante gerações com muitas artes marciais. Desde então vivi muitos anos na Europa, América e novamente no Japão. Acredito que muitos destes Japonesofilos são honestos e bem-intencionados praticantes de artes marciais atraídos pela imagem romântica que tem do Japão e das suas tradições marciais. Outros penso que são Snobs nipónicos. Eles acreditam que por fazerem o admirável sacrifício de se mudarem para o Japão e sobreviverem às dificuldades associadas a treinar lá, que são alunos superiores que receberam treino superior comparado com os seus amigos que ficaram e treinaram budo ou bujutsu fora do Japão. Se o seu treino é superior, é o Sensei que é superior, não a terra debaixo do chão do Dojo. Muitos sênseis superiores existem fora do Japão hoje em dia e muitos inferiores também existem no Japão.
Treinar no Japão não compensa um mau professor. Treine com um professor superior for a. Porque ir para o Japão para treinar com um professor inferior? E ainda, imaginar que o Japão moderno pós segunda Guerra mundial tem alguma semelhança cultural significativa com aquele da era do Japão feudal é ignorar alguns dos factos mais óbvios. Isto é especialmente verdade se estiver a treinar um bujutsu tradicional ou koryu. Usar o argumento da relevância cultural não faz qualquer sentido para mim. Eu assisti a incríveis mudanças na cultura do Japão no meu tempo de vida. O Japão Feudal morreu há muito tempo. A cultura das tradições marciais clássicas estava de tal forma ligada à era feudal que o fim desta era também trouxe o fim da cultura que usava as artes clássicas. Isto é apenas um facto histórico.
O que sobra hoje é a cultura moderna não-violenta do Japão que tem relevância superior para treinar em artes marciais modernas ou tradicionais comparadas com aquela de uma cultura ocidental mais violenta? A língua talvez ofereça alguma vantagem; Etiqueta talvez também. Mas estas são ensinadas com sucesso for a do Japão. Numa sociedade mais ocidental mais predisposta à violência poderemos ter de treinar com a percepção que poderemos ter de efectivamente usar a arte que estamos a aprender para salvar uma vida. Essa infeliz percepção vale muito. No Japão, apesar de toda a conversa filosófica de treinar para a morte, ninguém pensa realmente que irá ser vítima de um ataque a caminho de casa e talvez morrer.
A percepção que o crime violente realmente existe no ocidente foi um grande choque para mim quando fui para a América. Alterou para sempre a minha impressão do aluno de bujutsu que treina no Japão moderno comparado com o aluno que treina no ocidente.
 

Se tivesse que dar apenas um pedacinho de sabedoria para aconselhar alguém que procura um instrutor de artes marciais, qual seria?

Todos estão à procura de um Mestre ou Guru no ocidente, mas a palavra “Mestre” está tão sobre utilizada hoje em dia que se torna insignificante. Um mestre genuíno é quase impossível de encontrar porque não o reconhecerá rapidamente. Ele é muito mais que um professor. Professores genuínos esforçam-se por serem mestres mas apenas um em cada cem mil terminam a jornada. Existe apenas uma mão cheia de mestres em todo o planeta. É engraçado como todos eles vieram parar às páginas amarelas de São Francisco! Estou sempre a dizer às pessoas esta verdade. Não é corrigivel ou condicional. Qualquer um que se chame a si próprio de Mestre ou permita aos seus alunos referirem-se a ele na sua presença como “Mestre”, não é um mestre. Ocasionalmente, ele pode ser um professor bem-intencionado que confunde a definição da palavra, mas a maior parte das vezes ele é um narcisista conduzido pelo ego que procura adoração. Ele terá muito pouco para ensinar porque existe tão pouco espaço no seu coração para os seus alunos. Em vez de procurar um mestre, apenas procurem um bom professor com sentido de humor, especialmente se ele conduzir um automóvel velho e podre. (A rir enquanto se encaminha para o seu velho Toyota.) O meu velho amigo e Sensei, Matsuhiro Namishiro costumava dizer, “ tem de haver muitos sorrisos durante o caminho ou a viagem não vale a pena. “. Sabe, ele estava correcto!
 
[A entrevista acima combina respostas a questões por Takamura Sensei compiladas por Marco Ruiz e David Maynard à cerca de 10anos e uma serie de trocas de e-mails conduzidas entre Janeiro e Abril de 1999 por AJ editor chefe Stanley Pranin.

Tradução para Português feita por Artur Alexandre Pinto, membro da Takamura Ha Shindo Yoshin Ryu, do artigo publicado no Aikido Journal.]

Takamura Sensei shindo yoshin ryu
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Entrevista com

YUKIYOSHI TAKAMURA
Aikido Journal 117, Outono 1999